quinta-feira, 15 de março de 2007

Timbres Infantis

Na puberdade, época de mudanças, confusão e isolamento, minha voz mudava todo o tempo. Havia dias que era uma gritaria estranha, quase animal. Outros, ela se fazia tenor, e me deixava todo feliz. Havia ainda, dias em que eu acordava grave e dormia barítono.

Depois dessa fase, eu esperava que minhas cordas vocais se fortalecessem, que parassem com a palhaçada e começassem a me ajudar. Porém, quanto mais eu esperava, mais me decepcionava. As mudanças foram diminuindo, até que não houve mudança nenhuma.

O fato é que fiquei com uma voz de menino, eternamente infantilizado na minha expressão maior. Tive que abandonar o meu sonho de ser cantor e seguir por rumos que não utilizassem unicamente a minha garganta. Nenhum suporte ao meu galanteio, nenhum ganho pela voz.

O mais difícil era aturar a minha avó ligando lá pra casa:

- Alô.
- Alô, meu filho. É a tua veia... Liguei pra saber como está a família.
- Vó... é o Rafa, quer que eu chame o pai?
- Ahhh, desculpa... vocês tem a voz igualzinha....

A genética tem das suas.

...

Conheci uma poeta, que me encanta com as suas histórias e com seu jeito. Quando trocamos mensagens, sinto que temos bastante em comum, e que nossas diferenças apenas servem para que aprendamos um com o outro. Ela tem me dado muitas idéias e acredito ter contribuído em parte com as suas. Uma troca de grande valia. Nunca havíamos nos falado, até que veio a idéia de se ligar, só para conhecer a voz um do outro. Era a curiosidade batendo a porta.

Aquele telefonema encabulado, meio sem assunto, onde se tenta esconder exatamente o que se quer saber. Assim sua voz de travasseiro me atravessou o córtex, exigindo de minha mente controle para não "se perder" no que não existe.
Ela me disse que minha voz é bonita.

A genética tem cada uma.

3 comentários:

Anônimo disse...

muito legal!!! simplismente adorei! principalmente quando vc fala "...na minha expressão maior" e "...atravessando o córtex para não se perder no que não existe"!!
lindo!!

Anônimo disse...

Minha vó também achava que era meu pai falando quando eu a antendia ao telefone...hehe

Teve uma época que, pela minha voz, eu imitava o Renato Russo, aliás. (Mas só a voz!)

Abraço, cara! Show de bola, o post.

Suzi Schio disse...

Tinha um colega na escola, a voz dele variava tão drasticamente e tantas vezes que um dia, o professor pediu que cada aluno lesse um parágrafo de um texto (akelas coisas que os profs fazem qdo não estão com muita vontade de dar aula), o prof só ouvia, mas não olhava para nós. Qdo esse colega começou a ler e mudar a voz a cada frase, o prof perguntou: mas qtos estão lendo o mesmo parágrafo?

Risada geral, e um trauma pro guri....

Bjo!

(finalmente consegui um tempo pra ler aki)