segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Um brinde espanhol

Salud, pesetas, y una vieja con buenas tetas.
(Saúde, dinheiro e uma vadia com belas tetas)

De dois em dois anos...

Viva o Claudiomiro com a camisa vermelha. O verde pede ajuda, não negligencie a natureza. Uso um preto básico quando não quero parecer gordo. Minha pequena adora rosa em tudo o que usa ou brinca. A lua prata é a mais bela moldura do amor. Ela usa um vestido violeta e se insinua, ela me tira do sério. Listras, bolinhas, xadrez, texturas tropicais, quase tudo se mistura. Os meus brinquedos sempre foram os mais coloridos.

As cores da bienal deste ano me emocionaram.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Aos 15

Do nada, me lembrei de uma passagem na minha vida.

Poderia ser mais uma daquelas sem importância, mas algumas pessoas fizeram toda a diferença. Como sempre, eu falo de amizade quando lembro de coisas do passado. Talvez, por sempre ter sido rodeado de amigos ou pessoas legais, amigos de amigos. Talvez pela atmosfera da adolescência, onde amigos são os conhecidos, e o mundo adulto parece distante.

Uma amiga, na verdade uma “vizinha amor platônico”, me convidou para a ocasião da festa de seus 15 anos, no salão da paróquia do nosso bairro. Aquela velha história, os pais apresentando a menina (só tem cara de menina) que se transforma em mulher para a sociedade. E eu, de gaiato, ia fazer uma boca livre num sábado à noite. Como eu tinha 15 também e não tinha ainda muitos amigos de festa, não ia perder uma boquinha livre assim por nada.

Depois de por o pé na rua, já arrumado para a festa, é que e bateu uma certa solidão. Eu ia estar no meio de muitos vizinhos, muitos conhecidos do bairro. Entretanto, eu estaria sozinho mesmo assim. E arrumado também é uma expressão um pouco exagerada, pois eu lembro que naquela época meus recursos eram muito limitados. Estava de camiseta e de calça, nada de roupa nova. Um sapato emprestado do coroa completava o traje do pobre.

Como eu imaginei no trajeto, cheguei na festa e fiquei “de canto”, olhando para os lados e alternando com o parquet do velho salão da paróquia. Não restava mais nada além de buscar uma cerveja (salve a liberdade) e beber assistindo o nervosismo dos familiares e as meninas vestidas de mulher enquanto adentravam pela porta. Aquele gasto assoalho me lembrou das velhas domingueiras naquele mesmo salão, onde a gurizada mais povão e maloqueira do bairro, inclusive vilas adjacentes, dançava e suava ao som do dance mais bagaceiro, à procura de alguém para se agarrar em algum canto escuro. Eu era um dos responsáveis pelo estado lamentável daquele parquet, pensei.

O nervosismo da mãe da menina era o mais evidente. Ela corria de um lado para o outro, falava com parentes, ia até a porta e ficava olhando, como um cão esperando o dono. Pelos comentários próximos eu entendi que o fotógrafo e o responsável pela filmagem estavam atrasados, o que estava deixando um ar de impaciência na festa. Acho que era a fome batendo, somado ao cheiro maravilhoso do churrasco que vinha da cozinha.

Chega o então “pessoal da filmagem” e começa o agito de cabos, procura tomada e ajeita a luz. Adentra a porta do salão, com uma câmera no ombro e uma cara de homem sério, o Marcelo. Ele era um cara que eu conheci na escola, amigo de amigos meus. Ele me reconheceu quando passou por mim, e mudou na hora a cara séria.

- E aí cara?
- Beleza? Não sabia que tu tinhas uma filmagem...
- É do meu pai, aquele de barba branca.
- Legal... e quem é aquela morena com ele? – Apontando para uma moça com um flash na mão. Ela era bonita e bem morena, cor de cuia. Estava num vestido verde longo e parecia muito simpática. Fiz à pergunta ao Marcelo insinuando que podia ser algum “affair”. Ele me respondeu com uma cara impagável, sarcástico.
- É... deixa eu me lembrar o nome... minha mãe!
- Ah, pára! Jura?
- Desde que eu nasci.
- Mas...
- Eu sei, ela muito mais nova que o meu pai.

Já não estava mais tão chata aquela festa. Poderia, pelo menos quando ele não estivesse filmando, conversar com o Marcelo e dar umas risadas. Ele era mais velho e muito engraçado, sempre tinha uma resposta na ponta da língua. Deixei que ele filmasse e não fiquei atrapalhando, já que era o trabalho dele, e o pai dele estava de olho.

Adentrando o salão, caminhando como um pingüim e vestido como um “magal”, o Fabiano olha de longe para todo mundo. Vai se chegando a alguns conhecidos da família, cumprimenta a todos com apertos de mão e sorrisos idiotas. Parece bem conhecido de todos, coisa que eu não fazia nem idéia porquê. Será que ele era parente dela e eu nem sabia? Poderia ser essa uma daquelas coincidências engraçadas e oportunas? Ele me percebe naquele mar de rostos e com uma cara de tábua de salvação, cambaleia em minha direção.

- E aí meu? Eu não sabia que tu eras parente da Lisi.
- Eu não sou ainda, a gente ta namorando.
- Ah pára! Fala sério?
- Faz uns 5 meses. Tu viu que o Marcelo ta aí, filmando com o pai dele?
- Bah, revelações... Essa festa tá ficando boa – Falei disfarçando a decepção. Ainda tinha esperanças de... Um dia quem sabe? – Vi o Marcelo sim.
- Tu mora na rua dela, né? Ainda bem... Não me sinto à vontade com essa gente ainda. Conheço poucos e o pouco que conheço é meio desconfiado comigo. Não gosto de ficar de papo com eles.
- Desconfiados? Será que é porque tu tem um carro e essa cara de safado, e ela está fazendo apenas 15 anos contra os teus 18? - Sapeca o Marcelo que ouvia de longe o nosso papo, sem muitas papas na língua.
- Ta... eu sei, eu sei.
- Cerveja?
- Não, to dirigindo.
- Ta é sendo vigiado, isso sim...
- Hahahahahaha

E rimos da situação. Principalmente da situação do Fabiano. Ele iria dançar a valsa com ela, e isso ia ser filmado pelo Marcelo. Bom para contar para o resto da turma do São Mateus, em outras ocasiões.

Da cerimônia eu lembro pouco, somente alguns momentos. Lembro do Fabiano com cara de pastel, dançando com a menina na frente de todo mundo. Lembro do momento em que o Marcelo sentou-se à mesa, com uma cerveja, e disse:

- O pai agora toca sozinho.
- Beleza, pega o final dessa carne aí com a gente.

Jantamos e rimos ao mesmo tempo. Da carne eu lembro o sabor ainda, e dos papos e risadas eu sinto saudade. Depois que passei da conta, coisa fácil pois “a conta” ainda é muito rasa com 15 anos, eu me lembro de pouca coisa. Tanto tomei que lembro apenas de flashs. Lembro que dançamos no salão como se a festa fosse nossa, puxando passinhos e cantando como doidos. Acho até que éramos a atração da festa, mas não tenho certeza.

Desta festa ficaram essas lembranças e uma foto (horrível) com a debutante, que ainda guardo no meio de um monte interminável de lembranças da minha adolescência, numa caixa na garagem.