segunda-feira, 25 de junho de 2007

Moscas

Elas estão lá quando eu acordo de manhã
Elas me visitam no chuveiro
No espelho elas me olham e me indagam
E não esperam eu sair do banheiro


Não me deixam chegar no trabalho quieto
Querem sempre conversar no caminho
Já me acostumei, sem elas me sinto incompleto
E pior, sem elas eu me sinto sozinho

O trabalho se amontoa e não dou conta
Me atrapalham com afinco a todo momento
Me rodeiam a cabeça, deixando-a tonta
E quando o limite é atingido eu não agüento

E num grito eu exprimo a pressão do peito
Eu confesso: Não sei escrever poesia!
E desabafo no teclado, do meu jeito.
Mas elas teimam em me reescrever todo dia.

Pensando complicado

Às
Embaralho
Vezes
Palavras
As

Rafael

Apaziguar é minha missão aqui
Até acredito em Deus, ele me conta
Nos olhos de minhas filhas o vejo
Eu quero amar sempre além da conta
Ser rejeitado é sempre dolorido
Eu agrado sempre e tento ser bom
Quando me ofendem eu não dou ouvido
Me retrato à todos, sem sair do tom

Nunes

Eu sou aquele que cresceu sozinho
Apareço sempre sem ser chamado
Ser feliz e ter amigos é meu destino
É sempre bom poder estar ao meu lado
E quando em casa eu sou o pai
Na tua casa eu sou amigo
Minha marca do peito nunca sai
E ainda tenho conhecimento antigo

Pywa

Eu me amarro em correr riscos
Das responsabilidades eu me esquivo
Respiro sempre, mas o ar é de soberania
Me mexo para demonstrar que estou vivo

Eu não jogo pelas regras, eu não gosto disso
E quando perco a culpa não é minha
Não me chame de volta ao meu compromisso
Minha alma adora vagar sozinha

domingo, 24 de junho de 2007

Objeto

Já no quarto vazio, eu entrei e me fechei. Assim abri os olhos de criança que há muito eu não abria. Com cuidados para evitar ruídos muito ruidosos, eu tirei do bolso o brinquedo das crianças. Era mais lindo do que eu me lembrava, ao ver ainda com os olhos de adulto. Bem devagar, enrolei na mão cuidando os detalhes do plástico e dos adesivos. Para que serviria toda aquela parafernália em um brinquedo tão simples? Eletrônica era um mito, na última vez que brinquei com um iô-iô.

Ao lança-lo, fiz como uma criança inexperiente, como se nunca houvera pegado na mão tal brinquedo. Deixei o receio de lado, lembrando de todos os truques que eu aprendi na infância. Desfeito o laço que ainda me prendia nas fraldas, joguei-o com violência para baixo, suspendendo toda a magia com apenas um barbante.

E quando ele quase tocou o chão, o tranco no dedo indicador me deu uma sensação de êxito, de satisfação, de saciedade. Ele ficou paradinho, girando a uma velocidade que parecia incrível. Mais incrível ainda era o brilho intenso de toda aquela eletrônica. Com mais um tranco o trouxe de volta para minha mão, onde os LED’s ainda piscavam freneticamente, alternando-se até parar.

Saquei o sistema da catraca, onde a velocidade do giro destrancava o eixo do barbante através de um contrapeso. Saquei ainda o sistema de interruptor da eletrônica, que genialmente era disparado pelo movimento de uma mola.

Pensei por muito tempo em como minha vida mudara desde que aquele brinquedo me maravilhara pela primeira vez.

Menino e homem, unidos pelo laço do barbante, girando velozmente no meu coração.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Auto-retrato amoroso

Eu vou te azarar... Numa boa eu vou te azarar. Eu vou, com o meu jeito inseguro e servil, te elogiar e tirar uma febre. E com o seu sorriso eu vou me sentir melhor, conquistador, mas mesmo assim não vou te agarrar. Se você não tomar a iniciativa, o primeiro beijo vai demorar, talvez nem aconteça. Seja rápida.

Talvez você não saiba, e tomara que não descubra, que eu já estou apaixonado. Quando tu me agarraste pela nuca e me buscou a boca, quando fizeste as minhas mãos descer pelo teu corpo em cascata. Quando as bicas eu suei por estar perto, muito perto, de te ter por inteira.

No início, eu vou dar uma de conquistador. Não vou te ligar, nem mesmo vou te dar muita atenção. Vou fingir que estou escolhendo, sem nem mesmo ter o que escolher. Entretanto, do dia pra noite, eu vou te convidar pra ir lá em casa, e conhecer os meus pais, o meu cachorro e te apresentar para a Nona.

Se caso isso não acontecer, e você desistir antes, eu vou te perseguir como um cão que se acaricia e depois chuta. Eu vou pensar, por toda a minha vida, o que podia ter sido. Eu vou ter pena de mim e me odiar por não ser aquilo que você precisa, na hora em que você precisa...

Eu vou te ligar, às 4:00 hrs de uma quinta-feira, bêbado e carente. Eu vou te atazanar pelo telefone e tentar te fazer culpada por toda a minha falta de postura, pela minha falta de carinho, pela minha insegurança, pela minha falta de dignidade.

E no fim eu vou acabar, sentado no divã de um desconhecido, contando a nossa linda história. História essa que nem existiu, a não ser na minha cabeça insana e insegura, na minha mente distorcida pela raiva, incapaz pela imaturidade.