quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Parei pensativo, com o olhar parado no pinheiro que decora a frente da casa. Ou decorava até se tornar a maior árvore das redondezas. Está mais para sombra do que para orbe. Encontrei, num movimento, o documento do carro no meu bolso. Pensei que devia arranjar um local comum para guarda-lo, já que temos que tê-lo sempre à mão, como a chave do carro. Em instantes a minha menta viajava ao passado, e lembrava do quadro que eu fiz na minha infância, utilizando um pedaço de madeira, tinta, coifas de metal e verniz. Quadro este que hoje é o porta chaves da cozinha, atrás da porta. Passei a mão no meu pé, ao tirar a meia. Senti as calosidades do calçado industrial saltar-me ao dedos.

- Amor, o que tu ta fazendo aí, pensativo?
- Preciso escrever algo que está me incomodando. Me deu uma vontade de entalhar na madeira. Preciso de uma lixa de pé.
- Viver contigo é no mínimo interessante. Se tu fosses mais pobre seria louco, mas ainda está na fase do excentrismo.

Eu apenas sorri. Seria pedir demais que qualquer pessoa me entendesse mesmo.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

A Causa

A sociedade oprime
Os fortes tremem
O artista exprime

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Henry Chinaski

Atravesso a porta e caio junto da calçada, no meio fio. O sol esquentou o asfalto até pouco tempo atrás, esperando o momento certo para fritar as minhas costas. “Que maravilha” penso, ao ver que a garrafa em minhas mãos intacta ainda tem 4 dedos de wiskey. Bolas, a vida tinha o seu valor.

O botequeiro havia voltado ao seu balcão e parado de gritar toda aquela baboseira de não “volte mais aqui”. Idiota... não volto mesmo, vou beber em outro lugar. O cheques pararam de chegar, será que ninguém entende que mesmo sem grana eu preciso beber um pouco? A cabeça começa a doer, então eu bebo , com cuidado, o que restou na garrafa.

Era o que eu temia, a dor era da calçada e não da bebida. Uma luz bem próxima à esquina me deixa ver as pernas de uma garota, dessas garotas que ficam nas esquinas. Ela me pergunta algo que eu não entendo e depois me aponta como se eu fosse um monstro. Achei que iam me roubar então quebrei a garrafa nela. Caída, eu via o seu sangue se aproximar, então corri. Enquanto corria, pensava no quê alguém poderia me roubar, mas já era tarde demais para arrependimentos. Quase dois quarteirões depois, parei ofegante e com as mãos no joelho, tentando me manter em pé. O sangue dela continuava a me perseguir na calçada, desenhava ao meu redor. Então me virei pronto para quebrar a cara dela e nada vi. Somente o sangue na calçada e um trilha dele até mim. Me escorria da cabeça até os calcanhares o mesmo sangue que me perseguia, e tudo enegreceu.

Acordei com um dia vivo e um cheiro morto. Numa cama branca, um cara me olhava e me perguntava se eu estava enxergando direito. Como eu podia saber? Era tudo branco, não dava pra destinguir quase nada. Seguro social? Albergue? Dá um tempo... Cheguei ao próximo boteco somente ao meio dia de hoje.