quarta-feira, 7 de março de 2007

Pesadelo




Era uma serpente, eu sei. Sua cor puxava pro laranja amarelado. O formato da cabeça insinuava o veneno nas presas, distinção que aprendi ainda na escola primária.

Meus pais haviam a pouco escapado, inocentes e sem danos, do ataque que sequer previram.
Ela se escondia no assoalho, embaixo da escada, onde podia vê-la entre os degraus.

O próximo a passar seria eu, seguido de minha esposa e depois minhas filhas. É obvio, que mesmo eufórico e sem pronunciar palavra, empurrei tudo escada acima, numa virada violenta e muda.

Percebi que o fato mais intrigante é que minha boca estava hermética, imóvel, e eu só conseguia respirar ofegante.

...

Minha mão tateava a cama em busca do corpo que eu tinha certeza estar ao meu lado. Em vão, vagueando o braço por sobre o colchão vazio, ofegante, com a voz trancada na garganta, eu tentava gritar o nome de quem procurava.

Desesperado, percebi estar sozinho no leito. Percebi que só podia contar comigo mesmo, o que me era solitário e triste.

...

Acordei por completo com todas as impressões possíveis na cabeça. Perda, da esperança. Solidão, por estar pensando em alguém. Temor, pelo perigo iminente. Triste, por não poder me conter dentro de mim mesmo.

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