terça-feira, 8 de maio de 2007

Trabalho braçal


Dylan Thomas
Ele novamente.

"Para mim, o ‘impulso’ poético ou a ‘inspiração’ é a apenas a súbita, e geralmente física, chegada da energia para a perícia e o senso estrutural do artesão"

E ele tem toda razão, principalmente ao chamar o poeta de artesão. O poeta é alguém sensível, que percebe as coisas e a relação entre elas de maneira diversa a do senso comum. O que chamamos de inspiração é nada mais do que o momento exato em que nos dispomos a medir e expor (mesmo que para si) a idéia transcrita. Sobre essa idéia cabe rasuras e reestruturações diversas, de acordo com a veia do artista.
Assim, refinando ou não, lapidando a sua maneira, o artesão mostra o seu traço no resultado da obra.

Subvertemos o físico da palavra, distorcemos o seu sentido, para poder tirar os outros da sua realidade, transportando-os para a nossa.

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Para entender o trabalho de um poeta, é preciso antes de mais nada, transportar-se para a sua época, seu país e seu cotidiano. É impossível ler Dylan Thomas (e entendê-lo) sem antes conhecer sua história de vida e o contexto em que estava inserido no momento. Existem, é claro, poetas e poesia atemporal. Só os mestres, os verdadeiros, conseguem fazer isso de maneira consistente e inteligível.

Entretanto, o que muda de tempos em tempos são as pessoas. O contexto em que as pessoas lêem é crucial para que obra seja considerada genial ou não.

"A diferença entre uma paisagem e outra é pouca; é grande, porém, a diferença entre os que a contemplam. "
Ralph Valdo Emerson (1803-1882), crítico e poeta americano.

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"Em meu ofício ou arte taciturna
Exercido na noite silenciosa
Quando somente a lua se enfurece
E os amantes jazem no leito
Com todas as suas mágoas nos braços,
Trabalho junto à luz que canta
Não por glória ou pão
Nem por pompa ou tráfico de encantos
Nos palcos de marfim
Mas pelo mínimo salário
De seu mais secreto coração.

Escrevo estas páginas de espuma
Não para o homem orgulhoso
Que se afasta da lua enfurecida
Nem para os mortos de alta estirpe
Com seus salmos e rouxinóis,
Mas para os amantes, seus braços
Que enlaçam as dores dos séculos,
Que não me pagam nem me elogiam
E ignoram meu ofício ou minha arte."
Dylan Thomas

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