segunda-feira, 7 de maio de 2007

As Flores do Meu Jardim...

Ao sair da cozinha e entrar na sala de estar, corri os olhos em direção aos quartos das crianças. As luzes apagadas e as portas abertas, desertos de brinquedos e paredes cor-de-rosa. Voltei os olhos para baixo, para continuar o caminho até meu quarto, quando percebo a presença de dois olhos enormes e um sorriso de dentinhos tortos me encarando do canto do sofá.

Com um tabuleiro diante de si, cheio de quinquilharias: um duende, uma bola de cristal improvisada, bruxinhas de pano e bibelôs variados. Um turbante na cabeça completava o visual da minha vidente de 8 anos. Antes que eu abrisse a boca para perguntar o que ela estava fazendo, ela me aponta a placa (um papel escrito) em frente ao tabuleiro.

"Veja aqui o seu futuro. Eu leio a sua sorte...."

Nem terminei de ler o resto e a risada me veio sem querer. Abaixei-me e disse o que eu queria saber.

- Eu trabalho à 13 anos, já passei por várias empresas, mas eu não consigo ganhar dinheiro. O que eu tenho que fazer para ganhar dinheiro?
- Hum... deixe me ver.

Ela fechou os olhinhos e afagou a sua bolinha improvisada. Meditou por alguns instantes e me olhou nos olhos.

- Eu sei qual o seu problema.
- É?
- Tu tem que fazer aquilo que tu gosta de fazer. Só assim, tu vai fazer bem feito.
- Tem razão...
- E tem outra coisa. Tu tem que mostrar o que tu faz para os outros, senão as pessoas não enxergam.
- Obrigado filha...
- É um real – Estendendo a sua mãozinha para mim.

O conselho foi tão bom que eu paguei. Maldito capitalismo, já pegou a minha filha. Porém, eu também não tinha lido a letrinha miúda no cartaz "Consultas por apenas 1,00 real". Sai pensativo enquanto a vidente mirim aguardava sua nova vítima. Fui em direção ao meu quarto, onde a menor deveria estar olhando televisão. Ela tem uma coleção de DVD’s, doa mais variados tipos de animação.

Abro a porta e dou de cara com a cena. Ela está de pé na cama, de costas para televisão, segurando um travesseiro diante de si, com as pernas flexionadas. Antes de qualquer reação minha ela profere:

- Olha pai, o que eu inventei – E joga-se sobre a minha cama, como se pudesse voar, caído de barriga sobre o travesseiro.

Não restou outra alternativa. Eu que vinha do trabalho, cansado e pensando que a vida não valia a pena, deitei-me no chão de onde estava e tive uma crise de risos.

Um comentário:

Anônimo disse...

vc deve ser um pai maravihoso. sinto esse carinho mesmo te conhecer. parabéns.
um bju