domingo, 24 de junho de 2007

Objeto

Já no quarto vazio, eu entrei e me fechei. Assim abri os olhos de criança que há muito eu não abria. Com cuidados para evitar ruídos muito ruidosos, eu tirei do bolso o brinquedo das crianças. Era mais lindo do que eu me lembrava, ao ver ainda com os olhos de adulto. Bem devagar, enrolei na mão cuidando os detalhes do plástico e dos adesivos. Para que serviria toda aquela parafernália em um brinquedo tão simples? Eletrônica era um mito, na última vez que brinquei com um iô-iô.

Ao lança-lo, fiz como uma criança inexperiente, como se nunca houvera pegado na mão tal brinquedo. Deixei o receio de lado, lembrando de todos os truques que eu aprendi na infância. Desfeito o laço que ainda me prendia nas fraldas, joguei-o com violência para baixo, suspendendo toda a magia com apenas um barbante.

E quando ele quase tocou o chão, o tranco no dedo indicador me deu uma sensação de êxito, de satisfação, de saciedade. Ele ficou paradinho, girando a uma velocidade que parecia incrível. Mais incrível ainda era o brilho intenso de toda aquela eletrônica. Com mais um tranco o trouxe de volta para minha mão, onde os LED’s ainda piscavam freneticamente, alternando-se até parar.

Saquei o sistema da catraca, onde a velocidade do giro destrancava o eixo do barbante através de um contrapeso. Saquei ainda o sistema de interruptor da eletrônica, que genialmente era disparado pelo movimento de uma mola.

Pensei por muito tempo em como minha vida mudara desde que aquele brinquedo me maravilhara pela primeira vez.

Menino e homem, unidos pelo laço do barbante, girando velozmente no meu coração.

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu filho, tu não sabe que homizínho tem que gostar é de falar de futebol, mexer com mulher e "tunar" carros?

Este negócio de encanto, magia e tal, é apenas para os poucos (infelizmente) sonhadores, que ainda acreditam na magia do mundo.

Abraço!