quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Henry Chinaski

Atravesso a porta e caio junto da calçada, no meio fio. O sol esquentou o asfalto até pouco tempo atrás, esperando o momento certo para fritar as minhas costas. “Que maravilha” penso, ao ver que a garrafa em minhas mãos intacta ainda tem 4 dedos de wiskey. Bolas, a vida tinha o seu valor.

O botequeiro havia voltado ao seu balcão e parado de gritar toda aquela baboseira de não “volte mais aqui”. Idiota... não volto mesmo, vou beber em outro lugar. O cheques pararam de chegar, será que ninguém entende que mesmo sem grana eu preciso beber um pouco? A cabeça começa a doer, então eu bebo , com cuidado, o que restou na garrafa.

Era o que eu temia, a dor era da calçada e não da bebida. Uma luz bem próxima à esquina me deixa ver as pernas de uma garota, dessas garotas que ficam nas esquinas. Ela me pergunta algo que eu não entendo e depois me aponta como se eu fosse um monstro. Achei que iam me roubar então quebrei a garrafa nela. Caída, eu via o seu sangue se aproximar, então corri. Enquanto corria, pensava no quê alguém poderia me roubar, mas já era tarde demais para arrependimentos. Quase dois quarteirões depois, parei ofegante e com as mãos no joelho, tentando me manter em pé. O sangue dela continuava a me perseguir na calçada, desenhava ao meu redor. Então me virei pronto para quebrar a cara dela e nada vi. Somente o sangue na calçada e um trilha dele até mim. Me escorria da cabeça até os calcanhares o mesmo sangue que me perseguia, e tudo enegreceu.

Acordei com um dia vivo e um cheiro morto. Numa cama branca, um cara me olhava e me perguntava se eu estava enxergando direito. Como eu podia saber? Era tudo branco, não dava pra destinguir quase nada. Seguro social? Albergue? Dá um tempo... Cheguei ao próximo boteco somente ao meio dia de hoje.

2 comentários:

Ana Paula Cecato disse...

Meu amigo Rafael!
Pensei em teorizar sobre este conto, mas tá tudo nele!
Beijos da Tchuca

Anônimo disse...

Ô fael!!! recebi sua mensagem!!! obrigada lindão!!! o livro passou por alguns cortes, mas falamos disso outro dia, quero dizer que sempre passo por aqui para matar a saudades de nossas conversas!!!

te gosto mto!!!

bju grande